quinta-feira, 22 de maio de 2014

Maternidade traz um certo upgrade para as mulheres


Pesquisas comprovam: com a chegada dos filhos, desenvolvemos uma poderosa cesta de competências que nos ajuda tanto em nosso crescimento pessoal como profissional.

Isso mesmo! Podemos dizer que a maternidade traz um certo upgrade para as mulheres. As pesquisas comprovam. Por exemplo: em um estudo recente da Regus, consultoria especializada em flexibilizar ambientes de trabalho, feito com 65 mil executivos mundo afora, nada menos do que 65% dos entrevistados afirmaram que contratar mulheres com filhos pode aumentar a produtividade, a criatividade e melhorar o relacionamento com os clientes.

Estudos científicos começam a mostrar por que isso acontece. Um dos mais conhecidos foi conduzido pela neurocientista americana Pilyoung Kim e publicado na revista científica Behavioral Neuroscience. Ela realizou exames de ressonância magnética do cérebro de 19 mães em dois momentos: nas primeiras semanas após o parto e entre o terceiro e o quarto mês depois do nascimento. Concluiu que há um aumento nas áreas do cérebro ligadas a raciocínio, planejamento e julgamento. Segundo os pesquisadores, esse fenômeno decorre de mudanças hormonais que ocorrem depois do parto, como o aumento dos níveis de ocitocina, estrogênio e prolactina. Tudo isso, claro, tem reflexos no comportamento da mulher.

Outro pesquisador que vem investigando esse assunto é o professor de biologia Adam Franssen, da Universidade de Longwood, em Virgínia, nos Estados Unidos. Sua tese é que as mulheres com filhos são melhores para resolver problemas, lidar com o stress e completar tarefas que envolvem memória. Para comprovar, tem desenvolvido com outros pesquisadores experimentos com ratos — no caso, fêmeas divididas em dois grupos, as com e as sem filhotes. Coloca os animais para realizar tarefas como orientar-se em um labirinto. Depois, analisa amostras de seus tecidos cerebrais. Na prancheta, perguntas como: será que a condição de mãe confere às fêmeas maior quantidade de neurônios? Ou os neurônios maternos são mais eficientes do que os de mulheres sem filhos? "Existem transformações nos neurônios", afirma Franssen em uma entrevista à revista Smithsonian Mag. "Eles aumentam de tamanho ou alguns potencializam sua capacidade de produzir proteína em uma parte do cérebro ou talvez conectem neurônios que não se conectavam antes", explica. Tudo isso, diz ele, para dar conta da enorme carga de trabalho que é cuidar de uma criança.

Na própria pele

Formada em biologia, Ligia Moreira Sena, que escreve o blog A Cientista Que Virou Mãe, acompanha as descobertas da neurobiologia do comportamento desde seus estudos de mestrado e doutorado. "Essa é uma parte da ciência que investiga as áreas do cérebro que atuam em determinados comportamentos e situações", explica. "Quando minha filha nasceu, passei a observar em mim mesma muitas coisas que já havia estudado", conta ela, mãe de Clara, hoje com 3 anos.

Ligia atua como moderadora de alguns grupos de mães em Florianópolis e percebeu que o que aconteceu com ela também é vivido por outras mulheres. "A neuroplasticidade é a capacidade de o cérebro se remodelar mediante determinadas situações. A maternidade é uma delas. Ele se adapta para que a gente consiga dar conta de muito mais coisas do que antes", explica ela. Com um bebê em casa, a gente precisa ter uma atenção seletiva maior, precisa estar focada nas atividades de cuidados com ele, mesmo tendo muitos outros estímulos. Da mesma forma, pegar uma coisa tão frágil no colo exige mais precisão de movimentos. "Isso sem contar coisas menos mensuráveis, como a intuição mais aguçada, a atenção maior para pequenos detalhes", afirma a bióloga.

Momento especial

Todas essas mudanças encontram terreno fértil para render bons frutos. "Em geral, a gestação é um momento de introspecção na vida da mulher, em que ela se volta para dentro, olha para si mesma. Na psicanálise, dizemos que ela faz uma pequena regressão e entra em contato com uma linguagem que a gente abandona quando cresce, a linguagem das emoções", observa a psicanalista Audrey Setton Lopez Souza, professora do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo. "Nesse contexto, se a mulher se permitir, vai descobrir que sabe muito mais do que imagina."

Para Stella Angerami, especialista em Counseling e Coaching, sempre é tempo para aprender mais sobre si mesma. Especialmente quando a vida traz um estímulo tão poderoso quanto o nascimento de um filho. Afinal, se conseguimos realizar esse grande feito de gerar uma nova vida, podemos realizar muito mais. "Temos mais ânimo para experimentar o desenvolvimento de um novo comportamento, que antes ficava apenas no terreno da vontade", diz Stella. "Com o tempo, a mulher se vê diferente, melhor, mais feliz consigo mesma por ter conseguido transpor obstáculos que antes imaginava intransponíveis." Por tudo isso, explica Stella, é muito comum que a nova mamãe mude de comportamento e seja percebida social e profissionalmente assim. Mesmo internamente, ela começa a refletir sobre suas necessidades pessoais e de vida — incluindo anseios profissionais, comparações entre custo e benefício.

E como tirar partido de todas essas mudanças? "Primeiro, ela precisa entender e aceitar que essas novas habilidades estão presentes", observa Stella. "Depois, é importante refletir se delas nasce uma nova ocupação pessoal e profissional ou se apenas podem aprofundar o caminho que ela está seguindo e conquistar o que já tinha como plano para sua vida", conclui Stella. Para ajudar nessa reflexão, apresentamos a seguir algumas das principais habilidades que afloram ou são acentuadas depois que temos filhos.

Organização

Logo nos primeiros dias com um bebê novinho em casa, a mãe percebe que ele tem um ritmo, que sua rotina precisa ser marcada por um ritual. "Ele necessita disso para se acalmar, para ir aprendendo a esperar", explica a psicanalista Audrey Setton. "E a mãe também vai se acostumando a lidar com essa rotina, a organizar sua vida e a da casa para integrar esse novo ser", completa. Um aprendizado importantíssimo, uma vez que, mesmo que conte com uma rede de apoio (empregada, babá, creche, marido, avós...), culturalmente é a mulher que gerencia o universo doméstico. Ver quem faz o quê, otimizar recursos, delegar tarefas. "Para tudo isso, ela tem de desenvolver ou aguçar o seu senso de organização, a capacidade de antecipar problemas e prever soluções para eles", explica a psicóloga Rita Caligari, do Hospital e Maternidade São Camilo, em São Paulo. Já pensou ter que sair de noite à procura de fraldas descartáveis porque esqueceu de planejar as compras desse item ou verificar se o estoque doméstico era suficiente? Se trabalha fora, também precisará aplicar esse senso de organização a suas tarefas no escritório para dar conta de tudo no tempo certo, sem precisar ficar além do horário ou levar trabalho para casa.

Gerenciamento do tempo

Para equilibrar seus muitos papéis, a mulher com filhos precisa fazer uma reengenharia de tempo. Em sua agenda, as mesmas 24 horas de antes têm que render muito mais para que possa atender a todas as necessidades da sua vida como mãe, mulher, amiga, filha, profissional... "E, muito importante, sem esquecer de reservar um tempinho para si mesma", diz Stella. "Esse respiro é fundamental para que ela dê conta das outras coisas."

Relacionamento interpessoal

Com filhos, a mulher acaba tendo que lidar com uma rede de relações maior — babá, empregada, funcionários da creche, professores... "Aumenta mais a exposição a situações em que tem que lidar com diferenças, conflitos. Essas experiências estimulam a habilidade de se relacionar com pessoas", entende Rita. Para quem lidera uma equipe no trabalho, é um aprendizado valioso. "A maternidade nos ensina a nos colocar no lugar do outro, a ter uma escuta mais sensível para suas necessidades e seus desejos. É assim que a mãe consegue distinguir o que o bebê está querendo dizer com cada tipo de choro", explica a psicóloga Ana Merzel Kernkraut, coordenadora do Serviço de Psicologia do Hospital Israelita Albert Einstein, de São Paulo. Essa sensibilidade nos relacionamentos interpessoais é cada vez mais valorizada no mercado de trabalho.

Flexibilidade

Quando um filho entra em nossa vida, temos que lidar com muitas situações pelas quais nunca passamos antes sem perder o centro. "Aumenta muito o número de variáveis que a mulher precisa gerenciar", diz Stella. Esse exercício, segundo ela, é ótimo para afiar seu jogo de cintura. Ela tem uma reunião importante no trabalho logo cedo e a empregada liga avisando que não vai conseguir chegar por causa da greve de ônibus. E agora? "São muitas as situações como essa em que ela terá que improvisar, encontrar uma saída à queima-roupa. Tudo isso é um treino que a torna mais flexível", observa Rita.
 
Criatividade


Como uma coisa puxa a outra, os imprevistos acabam aguçando outra habilidade: a criatividade para buscar saídas, alternativas e soluções que nunca tinha imaginado.

Foco no desempenho da tarefa

Como o tempo é escasso, para dar conta de tudo, saber focar no que é essencial é outra habilidade valiosa. "Com isso, ela faz uma vez só e bem-feito", diz Stella.

Com informações do Bebê Abril.

Nenhum comentário:

Postar um comentário